Gênio
frisado
O primeiro
filhote da raça que posteriormente seria batizada de LaPerm deu um susto
na sua dona, uma fazendeira do Oregon, Estados Unidos: nasceu completamente
pelado, com as orelhas um pouco maiores que seus irmãos. Por sorte, a
fazendeira era curiosa e acompanhou sua evolução.
O patinho feio virou cisne e, ao final do terceiro mês de vida, já
tinha uma den a pelagem frisada. Isso aconteceu no ano de 1982, mas, como a
fazendeira não era versada em gatos, dez anos se passaram e outros frisados
vieram até ela decidir estudar o assunto, criar os gatos seletivamente
e finalmente apresentá-los. Nem é preciso dizer que a chegada
do LaPerm foi uma grata surpresa para a gatofilia.
O LaPerm,
40º colocado no ranking da CFA e reconhecido em alguns países da
Europa, na África do Sul, Japão e Nova Zelândia, apresenta
exemplares de pêlos curtos e outros de pêlos longos.
Tem tamanho pequeno a médio, cabeça arredondada e pescoço
bastante ereto, mostrando distinção. A presença de pêlos
é maior embaixo do pescoço e das orelhas.
Assim como seus colegas rex, o LaPerm é bastante
ativo. "Eles brincam em todos os minutos que passam acordados", conta
a criadora Andy Lawrence, diretora da LaPerm Cats Society. Andy, que vive no
Colorado e cria gatos desde 1956, conheceu o LaPerm em 1997 e se derrete pela
raça. "São gatos muito afetuosos e precisam mais de contato
humano do que qualquer outra raça com a qual eu tenha trabalhado",
diz. De arame
São também gatos bastante espertos, como gosta de ressaltar a
criadora norte-americana. "Uma vez, coloquei um macho e uma fêmea
no quarto e fechei a porta, para dar privacidade a eles", relata.
"Em poucos minutos, a fêmea saiu do quarto. Pensei que tinha deixado
a porta aberta. Voltei, fechei a porta e ela voltou novamente. Isso me deixou
intrigada. Coloquei os dois novamente e fiquei na porta, observando.
Pois qual não foi minha surpresa ao ver que a fêmea girava a maçaneta
e o macho ficava com a pata sob a porta: assim que a maçaneta fazia um
click, ele puxava a porta e abria para ela. Nem é preciso dizer o quanto
eles são inteligentes."
O
caçula
O Selkirk
Rex surgiu a partir de uma mutação mais recente numa ninhada de
gatos do Wyoming, nos Estados Unidos, em 1987.
Uma criadora de Persas que morava na vizinhança percebeu rapidamente
a importância daquela mutação e batizou a raça de
Selkirk, nome das montanhas canadenses próximas ao local de nascimento
do gato.
Da mesma maneira
que no American Wirehair, os pêlos crespos são característica
genética dominante. Entre os gatos apresentados nesta reportagem, o Selkirk
Rex é o de pelagem mais longa, embora exista também a variedade
de pêlo curto. "A sensação agradável que a pelagem
proporciona é mais um atrativo da raça", diz a criadora Donna
Bass, do Selkirk Rex Breed Club. "Mas, no começo, o que o dono mais
ouve são perguntas do tipo 'por que você não escova esse
gato?' e coisas do gênero", diverte-se a criadora, fazendo referência
ao aspecto descabelado da raça. Seus pêlos são um convite
ao tato e provocam comentários desde filhote. Nascem bastantes felpudos
e ondulados, perdem as ondulações por volta de seis meses, como
se tivessem feito chapinha, e voltam a ficar frisados logo depois.
Com cabeça e olhos bastante arredondados, o Selkirk Rex tem corpo musculoso
e retangular, com pernas também musculosas, o que lhe confere a aparência
geral de um gato encorpado, como acontece com as variedades americanas de pelagem
ondulada reconhecidas pela CFA, diferentes dos esguios rex ingleses. A aceitação
do Selkirk Rex nos Estados Unidos é notável para uma raça
jovem: foi o 27º gato mais registrado no país em 2002 de acordo
com a CFA. Mas, fora da América do Norte, é um gato raro. "Nunca
ouvi falar da presença de Selkirk Rex ou mesmo de American Wirehair na
Europa, mas sei que existem alguns LaPerm", afirma Penny Blydlinski, secretária
geral da FIFe. Também não há qualquer registro das três
raças no Brasil.
A pelagem felina
São dois os tipos principais de pêlos que compõem a pelagem
dos gatos: o mais longo, conhecido como pêlo, e o subpelo (lanugem), camada
mais curta que protege a pele do animal.
Veja como a combinação dos dois pode aparecer de maneiras diferentes:
Pelagem longa: a diferença de comprimento entre pêlo e subpelo
é grande. O subpelo espesso dá densidade à pelagem. O Persa
é exemplo.
Pelagem semilonga: a diferença de comprimento entre pêlo
e subpelo é menor que na pelagem longa. Ragdoll, Maine Coon e Sagrado
da Birmânia possuem esse tipo de pêlo.
Pelagem curta: o pêlo é apenas um pouco mais longo que o
subpelo e sua textura pode variar de macia (como acontece no Exótico
e Siamês) a dura (caso do Abissínio e American Shorthair).
Pelagem frisada: gerada
a partir de mutações, normalmente em gatos de pêlo curto,
é formada quase exclusivamente de subpelos. É a que se vê
nos gatos apresentados nesta reportagem.
Gato pelado: resultados de mutações, são representados
pelo Sphynx (o único representante reconhecido dessa categoria) e por
outras raças mais recentes: Peterbald, Don Sphynx e Minskin.
Embora não pareça, o Sphynx possui uma finíssima pelagem,
formada por subpelos, aparente apenas no nariz, bigode e extremidade das patas
e cauda
Novas
variedades
Você
já ouviu falar em Maine Wave? Parece nome de banda de rock, mas trata-se
de uma variedade do gato Maine Coon com pelagem ondulada.
A gatofilia internacional registra mais de uma quinzena de gatos que nasceram
com a pelagem frisada, mas muitos não se perpetuaram, como o norte-americano
Karakul Cat, surgido nos anos 30.
Entre as novas variedades, há misturas bastante exóticas, como
o alemão Poodle Cat (Pudelkatze), que traz do Devon Rex a pelagem frisada
e do Scottish Fold a orelha dobrada. Criado em 1987, ficou popular em alguns
círculos da Europa. Da Escócia vem o Scottish Rex, também
gerado a partir de um Scottish Fold.
Há também gatos frisados na República Checa (o Bohemia
Rex), na Holanda (Dutch Rex) e muitos nos Estados Unidos (Iowa Rex, Missouri
Rex).
Mas só o tempo irá dizer se todos eles formarão efetivamente
novas raças.
PARA
SABER MAIS
Clubes: 1) Cornish e Devon Rex, Rex Cat Club (Reino Unido),
www.rexcatclub.com.
2) Devon Rex Breed Club (Estados Unidos), www.devons.com;
3) LaPerm Society of América, www.lapermcats.com; 4) Selkirk Rex Breed
Club, www.selkirkrexcats.org; 5) American Wirehair, www.cfainc.org/breeds/profiles/american-wh.html;
6) German Rex, http://germanrex.de.vu
Livro: Rex Cats: A Complete Pet Owner's Manual (J. Anne Helgren, Editora Barron's,
US$ 7,95, à venda em www.amazon.com)
Criadores no Brasil: 1) Cornish Rex: 1) Amintas Elias Ferreira,; 2) Gatil Borobadur,
José Carlos Martins Gaspar,;
3) Gatil La Querencia, Marcelo Souto,; 4) SHWorld Cattery, Rebeca Nogueira D´Alberto,;
5) Gatil Faelis Domus, Jurema Cebrian,
Agradecemos aos entrevistados e a Liane Diehl, Júnia Virgilio, Clube
Gaúcho do Gato, Sylvia Roriz e Petra Hein.
Reportagem e texto: Denise Bobadilha (Coordenação: Marcos Pennacchi).
Revisão técnica (intermediada por Fabio Bense): completa - Sarah
Hartwell.
Parciais - Gerri Miele e Kitty Dieterich (American Wirehair), Amintas Ferreira,
José Gaspar e Marcelo Souto (Cornish Rex); Terry Jorgensen (Devon Rex);
Paulo Ruschi (German Rex); Andy Lawrence (LaPerm) e Donna Bass (Selkirk Rex).
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